Blog do Jornal Dois Irmãos


10 de fev. de 2014

Você fala hunsrik ou alemão?

Xprëche sii Hunsrik Xprooch oder deutsch?


Solange com os livros publicados pelo Projeto Hunsrik








Baumschneiss, Reutersberg e Teewald, estes nomes em alemão são os diferenciais destas três cidades, Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, respectivamente. Na verdade, o diferencial é que muitas pessoas ainda cultivam a língua trazida pelos imigrantes germânicos vindos em meados de 1800 para a região. A língua Hunsrik é a herança de muitos antepassados e tão importante quanto outra língua. Prova disso, é que foi transformada em Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul, em 2012.

Foi pensando justamente na importância da preservação desse idioma que, em 2003, teve início o projeto de pesquisa Hunsrik, que começou a ser desenvolvido em Santa Maria do Herval. O objetivo era criar um código de escrita para a língua e também preservar a cultura e o idioma junto às crianças e suas famílias, assim como nas comunidades de falantes da língua. As pesquisas do Projeto Hunsrik ocorrem no Museu Municipal de Santa Maria do Herval. De acordo com umas das idealizadoras do projeto, Solange Maria Hamester Johann, o hunsrik é uma língua que vem se renovando e sua a valorização é visível. “Tem fanpage (Plôs Tum Háide), com mais de 10.000 seguidores, programas de rádios em várias regiões do país, assim como o Projeto Hunsrik, que tem um comentário semanal na Rede AHAI de Rádios, distribuído para 26 emissoras de rádio em 4 estados (RS,SC,PR e ES)”, afirma Solange, ao destacar que esses são apenas alguns exemplos que reforçam que os jovens estão “tomando posse de sua língua mãe”, apropriando-se de sua cultura e valorizando-a.
“A batalha é grande para incluir o idioma no currículo dos alunos de pré ao 5º ano, nos municípios em que há falantes, não concorrendo, assim, com o aprendizado do inglês e do alemão, que é feito a partir do 6º ano”, completa Solange.

Página do livro Hunsrück-Sprüche
Hunsrik é a segunda língua mais falada no Brasil
Muitas pessoas falam que o dialeto é indecifrável para brasileiros e alemães. Mas segundo Solange, isso é preconceito linguístico. “Mais de 3 milhões de brasileiros falam o Hunsrik. Nós somos a 2ª língua mais falada no Brasil”, diz ela.“Viajamos com um grande grupo aqui da cidade para o Hunsrück e Sul da Alemanha. No Hunsrück parecia que estávamos em casa, falando com os vizinhos. As pessoas de lá choravam de emoção ao nos ouvirem falar. No sul, precisávamos ajustar apenas algumas palavras para nos entendermos perfeitamente ”,conta a pesquisadora, relatando que muitas pessoas não queriam acreditar que eles eram brasileiros.

Livro Hunsrück-Sprüche é uma coletânea
de versos, rimas e ditados em Hunsrück
Hunsrück-Sprüche
A ideia de traduzir o livro Hunsrück-Sprüche, da autora Berti Weber, surgiu em meados de 2011, quando Solange recebeu a visita dos professores e linguistas Edmund Wild e da esposa, da Alemanha, que vieram especialmente para conhecer o Projeto Hunsrik, acompanhados do professor Osvino Toillier. O casal de linguistas ficou tão encantado pelo projeto, que tão logo chegaram de volta à Alemanha, e enviaram o livro de Berti. “Assim que recebemos o livro original já digitalizado, transcrito para o Hunsrück da Alemanha 
e para o alemão padrão por Wild, vislumbramos a possibilidade de publicá-lo aqui, com o nosso código de escrita. Os trâmites legais e o trabalho de tradução levaram quase um ano”, relata ela, ao relembrar que a edição brasileira foi lançada em 2012. Com 80 páginas, o livro é uma coletânea de versos, rimas e ditados em Hunsrück, publicado por Berti em 1931, que, no início do século XX, percorreu a região de Kreuznach, no Hunsrück, conversando com as pessoas, para coletar pérolas da cultura Hunsrück.“Muitos desses versos foram reconhecidos por pessoas daqui do Estado, o que prova nossa forte ligação cultural com o Hunsrück, na Europa”,completa Solange. O livro já foi traduzido para 15 línguas.

2 comentários:

  1. Quando comecei a ir na escola não conhecia nenhuma palavra em português. Até para pedir água não sabia. Ainda bem que o professor falava o Hunsrik. Com o tempo nosso dialeto materno foi se esquecendo, e hoje meus filhos não sabem nada dele. Fiquei surpreso com a divulgação deste programa de resgate à este dialeto que ainda é muito falado onde há pessoas que preservaram sua cultura, especialmente nas colônias rurais. Aos poucos tento falar novamente neste dialeto, mas muitas palavras e significados foram esquecidos. Com este programa de divulgação do Hunsrik fica mais fácil resgatar o que parecia estar desaparecendo definitivamente.

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