Blog do Jornal Dois Irmãos


23 de out. de 2014

Nova crise preocupa setor calçadista em Dois Irmãos

Demissões passam de 600 em 2014 e 10 empresas fecharam

A expectativa de um ano bom para o setor coureiro-calçadista não se confirmou. De janeiro até agora, dez empresas já fecharam as portas – nove delas em Dois Irmãos e uma Morro Reuter. Para piorar, a perspectiva a curto prazo não é animadora.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Sapateiros de Dois Irmãos e Morro Reuter, Romeo Schneider, o fechamento de empresas é reflexo de diversos fatores. “O ano de 2014 não foi bom para o setor. Tínhamos a Copa do Mundo, em que a expectativa era boa, mas não se confirmou. Além disso, fomos afetados pela crise internacional, especialmente a da Argentina, que era o segundo país que mais importava calçado brasileiro”, diz ele, acrescentando a queda no mercado interno. “O mercado brasileiro também não consumiu. Percebemos que as pessoas não estão priorizando o vestuário. Elas estão distribuindo mais a renda, investindo em outros setores. Hoje em dia, as pessoas estão investindo muito em celular e veículos”, analisa. 
O fechamento de nove pré-fabricados e uma fábrica representam 250 demissões diretas. Segundo Romeo, nenhum desses funcionários recebeu qualquer direito trabalhista. A partir de agora, a cobrança será na Justiça do Trabalho. “Temos duas audiências já marcadas, ainda em outubro. Posteriormente, outras serão agendadas”, comenta Romeo, destacando ainda a redução de funcionários e o fechamento de filiais de grandes empresas de Dois Irmãos. “Também tivemos grandes indústrias calçadistas demitindo funcionários. Uma delas chegou a fechar uma filial”, acrescenta o presidente do sindicato.
 Somados, o número de trabalhadores demitidos no setor calçadista em 2014 já passam de 600.

Setor já empregou 9,2 mil e hoje tem 5 mil trabalhadores

O presidente do sindicato destaca ainda que, na década de 90, 100% do calçado produzido em Dois Irmãos era exportado – quase 70% só para os Estados Unidos. Nos anos de 1994 e 1998, crises afetaram o setor e, consequentemente, veio a falta de emprego. “Aos poucos, as políticas industriais foram mudando. As empresas começaram a exportar para mais países e a fazer muito mercado interno. Com as crises, as empresas também buscaram novos nichos de mercado e serviço terceirizado. Chegamos a ter 100 pré-fabricados em Dois Irmãos. Nos últimos 10, 15 anos, os atelieres foram responsáveis por 40% da produção do calçado. Em razão disso, foram responsáveis, na época, pela geração de mais empregos”, destaca ele. Hoje, o setor calçadista do município conta com 50 empresas de pré-fabricado e oito fábricas. Atualmente, o setor coureiro-calçadista emprega aproximadamente 5 mil pessoas nos dois municípios, sendo 4,2 mil em Dois Irmãos e 800 em Morro Reuter. O declínio tem sido gradativo ao longo dos últimos anos. No auge do calçado, o setor chegou a empregar 9,2 mil trabalhadores.

Auge da crise previsto para primeiro trimestre de 2015

Na opinião de Paulo Vicente Bender, presidente do Sindicato Patronal, a atual crise não afeta apenas o setor coureiro-calçadista. “Vivi crises nas décadas de 70, 80, 90, e, na minha opinião, a de agora é uma das piores. E o pior ainda está por vir. Independente de quem vencer as eleições, o Brasil terá um problema sério. O governo atual deixou a indústria chegar a um patamar no qual o Brasil é um país caro em tudo o que exporta”, diz ele, destacando principalmente o calçado e as consequências sofridas pelo setor. “Tudo isso gerou a redução das fábricas e, consequentemente, dos empregos. Hoje em dia, de todo o calçado produzido em Dois Irmãos, apenas 30% é exportado. O restante é mercado interno”, completa.
Segundo Vicente, a crise no setor vinha se arrastando desde o início do ano, ocasionando as mais de 400 demissões nas grandes empresas calçadistas do município e suas filiais. Diante do quadro de incertezas, os empresários seguem atuando com cautela. “Temos uma grande preocupação, principalmente com o ano de 2015. Ainda não estamos no auge da crise. Na minha visão, veremos isso no primeiro trimestre do ano que vem. Quem governar vai ter que recuperar a credibilidade brasileira”, diz ele, reiterando a cautela dos empresários após a crise que se instalou. “Todos estão muito cautelosos e também não tenho visto investimentos. O que estão fazendo, é tentando manter o grupo de funcionários”, acrescenta Vicente.

Dissídio dos últimos anos

2011 8% (6,87% de inflação + 1,13% de aumento real)
2012 7,5% (5,36% de inflação + 2,14% de aumento real)
2013 8% (6,38% de inflação + 1,62% de aumento real)
2014 7% (6,33% de inflação + 0,67% de aumento real)


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