A morte de um homem de 31 anos no Postão 24h, na última quinta-feira, dominou a pauta na sessão da Câmara de Vereadores. Jones Alvez da Silva morreu depois de ter o atendimento negado por médico e enfermeira.
De acordo com a família, ele tinha problemas de saúde há mais de um mês e já havia passado por cerca de 20 atendimentos no Postão, sem diagnóstico. Na última semana, o drama começou na tarde de segunda-feira, quando já houve reclamação de demora no atendimento. À noite, o rapaz voltou ao posto e houve um princípio de confusão. A Brigada Militar chegou a ser acionada. “Ele só piorou desde segunda-feira. Levamos todos os dias ao posto. Na quinta, ele deu entrada por volta das 19h e o médico se negou a atender, dizendo que não iria atender um ‘vagabundo’. Uma enfermeira também se negava a atender”, relatou Eva da Silva, irmã de Jones, que morava no Loteamento Picada 48. O rapaz já tinha sido usuário de drogas, mas a família afirma que agora não estava usando. Ele veio a óbito por volta das 23h de quinta-feira, dia 17.
Médicos e enfermeira afastados
Na sessão desta segunda, depois da prestação de contas da Secretaria de Saúde, Jerri Meneghetti pediu para falar sobre o caso. O secretário afirmou que já foi instaurada uma sindicância e solicitado o afastamento dos dois médicos e da enfermeira envolvidos no atendimento de Jones. Os médicos são de empresa terceirizada, contratada pelo município através de licitação.
- Já conversamos com algumas pessoas envolvidas e vamos acompanhar de perto o andamento da sindicância. Gostaria que o caso fosse tratado de forma pontual, pois temos excelentes profissionais na área da saúde. Não foi falha do sistema, mas um eventual atrito com os profissionais envolvidos – declarou Jerri, sem citar nomes.
Recurso há. Falta gestão!
Márcio Goldschmidt (PT) classificou o episódio como revoltante e resgatou nas atas alguns pronunciamentos de vereadores de PMDB e PP, da época de oposição:
- O discurso é uma coisa, mas quando assumem fazem outra. Não queremos julgar como eles faziam. O Paulinho Quadri chegou a dizer que o Miguel (Schwengber) era o pior prefeito em 50 anos. A Tânia (da Silva), na época ainda vereadora, criticava as promessas que não foram feitas. Mas e agora? Será que a melhoria na saúde, que tanto foi prometida, as pessoas estão percebendo? Acredito que não, pelo número de pessoas que nos procuram para reclamar. Recurso há. Falta gestão! Que isso nunca mais se repita, pois é uma vida que não se recupera.
Para o líder da oposição, a situação da saúde pública em Dois Irmãos piorou e está se agravando:
- Nos criticavam bastante, mas nós fizemos o CAPS, trouxemos o SAMU, criamos a Farmácia Municipal, construímos um posto de saúde no bairro São Miguel e fizemos as adaptações possíveis no Hospital São José e no Postão. Sem contar a maior conquista, que foi garantir a UPA. Já vocês, a principal ação até agora foi mandar a UPA embora de Dois Irmãos – alfinetou Márcio.
Sem melhorias até o momento
O colega Joracir Filipin (PT) também lembrou a enxurrada de promessas na campanha eleitoral:
- Muito se prometeu que a saúde ia melhorar, mas neste momento vemos problemas sérios na gestão. Se houve falha médica ou não, a responsabilidade em averiguar é da prefeita Tânia e do secretário Jerri. Até agora não vi melhorias, e a única coisa que a gente tinha mandaram embora – disparou o vereador, referindo-se à UPA.
Pepino nas mãos
Paulinho Quadri (PMDB) foi o primeiro a rebater:
- Graças a Deus que não vão fazer a UPA – disse ele, antes de entrar no caso. – A falta de responsabilidade de alguns já está sendo apurada. Segundo a família, houve problema com médico e enfermeira. Se houver culpados, que a Justiça faça justiça.
Leonel Dornelles (PTB) destacou que a empresa terceirizada já prestava serviços na administração anterior e que o caso não pode ser usado politicamente pelos vereadores.
- O momento é grave e nossa administração já tomou providências. Vocês falam da UPA, mas ninguém diz que o Renato (Dexheimer) deixou 950 mil da venda da folha de pagamento ao Banrisul, terreno no bairro Primavera e planta pronta para investir no novo Postão. Tinham quatro anos para fazer, mas não fizeram porque foi iniciativa do governo anterior. Sem contar que deixaram uma dívida de mais de 3 milhões por não pagar hospital. Ficamos com um pepino nas mãos!
Recorde de mau atendimento
Para Jailton Proença de Lima (PDT), é preciso averiguar de perto as circunstâncias desta morte.
- Conheço a família e o rapaz. Ele fez tratamento, retornou, teve algumas recaídas, e já estava há algum tempo sem usar drogas, segundo sua mãe. Não sei o que foi feito e qual a razão da morte do rapaz, mas todo cidadão deve ser bem atendido. O pessoal do Postão tem mania de chamar a polícia e muitas vezes eles não querem dar explicação aos familiares – comentou o pedetista.
O presidente Jair Quilin (PDT) fez duras críticas a quem está no comando da unidade de saúde:
- Falaram da empresa terceirizada, mas é preciso dizer que existem três, quatro coordenadores lá para responder pelo atendimento e pressionar sobre o andamento do trabalho. A família passou 20 dias indo ao posto e ninguém foi averiguar o que estava acontecendo? Isso é um recorde de mau atendimento. Nem se deveria dizer aqui se ele usava drogas ou não. Será que quando ele morreu lá dentro também chamaram a BM para fazer um termo circunstanciado? Deveriam exigir a demissão destes coordenadores – declarou o pedetista, em tom áspero.