Blog do Jornal Dois Irmãos


20 de jul. de 2015

23 anos de dedicação às causas sociais


Conhecendo os atuais problemas enfrentados pela sociedade, como a violência, o abuso de menores e a discriminação, o assistente social tem como principal desafio assimilar a realidade de cada indivíduo, para com isso construir propostas compatíveis com as necessidades enfrentadas por eles. E é justamente essa polivalência de conhecimentos que permite a sua atuação em todos os níveis sociais e culturais, trabalhando com grupos ou comunidades. Um exemplo disso é Dois Irmãos, onde o serviço de Assistência Social se encontra em plena evolução, tendo atendido 1.231 famílias em 2014 pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e outras 155 pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) entre março de 2014 e julho de 2015. Mas nem sempre foi essa a situação do município. E para saber um pouco mais sobre a história deste departamento na cidade, conversamos com Leila Elisa Wendling Kuntzler, 57 anos, que atua na área há 23 anos, sendo hoje Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social.

A vocação falou mais alto
Formada em Psicologia pela Unisinos, com especialização em Psicologia Clínica, Leila conta que a paixão pelas causas sociais sempre a acompanhou. “Mesmo tendo aquela imagem de que o psicólogo atuava apenas em seu consultório, minha vontade sempre foi trabalhar com famílias carentes nos bairros da cidade. Costumo dizer que o que aprendi no serviço público nenhum mestrado ou doutorado teria me ensinado. É muito gratificante. Por isso não consegui me desligar da profissão até hoje”.  Ela lembra que entrou na prefeitura da cidade como concursada no ano de 1991, e, inicialmente, por ter maior afinidade com a área, quis trabalhar como psicóloga na área da educação. Com o passar do tempo, mais especificamente no ano de 1993, a demanda fez com que ela passasse para a secretaria da Saúde, e, por consequência, para o Departamento de Assistência Social, onde encontrou sua verdadeira vocação na psicologia: o trabalho social.

O que é e como funciona o Conselho Municipal de Assistência Social?
O Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) é um órgão obrigatório pela Lei Nº 1381/96 desde 1996. Ele visa fiscalizar, em âmbito municipal, as entidades que estão credenciadas a ele de acordo com as normas estabelecidas pela Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Em Dois Irmãos, as entidades credenciadas são a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), a ONG Assis e a MITRA. O CMAS é formado por 5 membros representantes do governo municipal, e 5 não representantes, além de um suplente para cada um dos membros. Entre as funções dos membros está acompanhar e avaliar os serviços de assistência que envolvem projetos e programas, além de fiscalizar se os recursos destinados às entidades estão sendo utilizados adequadamente.

A evolução da Assistência Social em Dois Irmãos
Foi um longo trajeto até os dias atuais. Segundo Leila, por muito tempo a Assistência Social foi vista como uma “área de beneficiamento”, ou “dependência” para os menos favorecidos. “Com o passar dos anos pudemos observar que a Assistência Social passou a ser vista como uma política pública, e meu trabalho como psicóloga ficou mais ligado às causas sociais. O espaço para a psicologia em Dois Irmãos foi se ampliando com o passar do tempo, tanto que hoje enxergamos a necessidade desses profissionais na orientação de equipes em diferentes setores. Na minha opinião, a Assistência Social em Dois Irmãos está em franca evolução, pois agora temos o CRAS e o CREAS. Claro que o ponto máximo da evolução seria se a Assistência Social deixasse de ser um departamento e passasse a ser uma secretaria, mas podemos dizer que estamos bem estruturados no município”, analisa Leila.

Casos marcantes

Quando questionada sobre quais casos mais marcaram sua carreira, Leila responde prontamente: “Todos os atendimentos que fiz até hoje foram importantes para mim, por isso fico com minha consciência tranquila. Faço meu melhor sempre, mas com certeza os casos que envolvem violência doméstica e dependência química, dos pais ou filhos, são os piores. Já passamos por diversas situações em que vimos mulheres abaladas e agredidas, não só fisicamente, mas psicologicamente também. Algo que nos mostra o limite do nosso trabalho e a linha tênue que existe entre a força de vontade e o vício é o atendimento a usuários de drogas. Em diversos casos passamos horas, dias e meses conversando com o paciente, e do nada ele volta para o vício. Quando temos notícias novamente, muitas vezes eles estão presos ou até foram mortos em outras cidades. É uma lição todos os dias, pois não podemos ajudar alguém que não quer se ajudar”. Em meio a tantas histórias, a psicóloga confessa que, logo no início de seu trabalho na assistência, teve um caso extremamente marcante, que foi o de uma criança de 4 anos que sofreu abuso sexual de um vizinho da família. “Lembro que a família era de outro município, pois não havia Assistência Social no que eles residiam. Eles precisavam de ajuda psicológica, principalmente a criança, então fui atender. Aquele acontecimento mexeu muito comigo”, relembra Leila. 

Principais desafios

Com 23 anos de vivência nas práticas sociais, sendo 15 deles como representante do CMAS, Leila afirma que a maior dificuldade da Assistência Social atualmente é a falta de repasse do governo Estadual e Federal. “Desde outubro de 2014 a União não faz mais repasses de verba. Diante dessa situação, o município acaba tendo que arcar com o custo de projetos que foram criados pelo Governo Federal. Eles até afirmam que a contrapartida será enviada, mas nada chega aos cofres. Por isso estamos sempre atentos para usar a verba da melhor forma possível”, explica a psicóloga. Leila também ressalta que outro desafio é desmistificar a visão de que a Assistência Social tem o dever de “dar” tudo que as pessoas menos favorecidas precisam. “Hoje o nosso foco é muito mais voltado em fazer com que as pessoas em situação de vulnerabilidade comecem a acreditar em seu potencial. Por isso oferecemos cursos e projetos que apresentam uma nova perspectiva de vida para estas. Há anos atrás se tinha a ideia de que quanto mais cestas básicas fossem distribuídas, melhor. Hoje, a visão é justamente outra: quanto menos, melhor. Pois isso quer dizer que, cada vez mais, as pessoas estão conseguindo andar com as próprias pernas”.

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