Idosos conectados no mundo virtual

Nunca é tarde para quem deseja estudar. Esse tem sido o desafio encarado pelos idosos que querem estar “on” no Facebook e WhatsApp, publicar no Instagram e no Twitter. Em recente pesquisa divulgada em janeiro de 2015 pela AVG Technologies, empresa de segurança on-line com mais de 188 milhões de usuários ativos, 76% dos brasileiros com mais de 50 anos estão no Facebook e 78% possuem Smartphones. A pesquisa foi realizada com quase seis mil pessoas com mais de 50 anos sobre seus hábitos tecnológicos e opiniões sobre as novas tendências desse mercado.

Em Dois Irmãos, o casal Virginia Brizolla, 70 anos, e Valdir Dias da Silva, 75, registra os melhores momentos da sua vida e posta nas redes sociais. Depois de frequentarem um curso de informática há pouco tempo, eles nunca mais ficaram desligados das redes.

“Fiz o curso para me atualizar, depois de ganhar um computador do genro”, conta Valdir. A esposa também ficou curiosa em descobrir o mundo virtual. Ela mesma conta que nem gostava desse negócio de internet. Resolveu desafiar o marido da seguinte forma, se aprendesse a mexer no computador, ele teria que comprar o melhor tablet de uma loja da sua escolha.

“Estava na hora de fazer um curso. Estamos 50 anos olhando um para a cara do outro. Tem que ter um entretenimento”, diz ela, aos risos, revelando que estão casados há 50 anos.

Eles também surpreenderam os familiares. “Utilizamos o Facebook e o WhatsApp para nos comunicar com os amigos, três filhos e seis netos. Além disso, as redes sociais nos proporcionaram reencontrar amigos e conhecidos de longa data”, conta o casal, enquanto deslizam os dedos sobre a tela dos dispositivos móveis.

Até novas receitas pesquisadas na internet estão sendo feitas na cozinha da aposentada. “E agora não tem mais desculpas, recorro ao Google para preparar novos pratos e guloseimas”, diz ela.

O mais curioso desta história é que eles incorporaram radicalmente a tecnologia no seu dia a dia. “Às vezes, eu estou na sala e o Valdir no quarto, e conversamos através das redes sociais”, diz ela.

  

Redes sociais “on” e câncer “off”

Debilitada em função de um câncer de mama descoberto há seis anos, a aposentada Claudete Breuning, 61 anos, popular Ketty Ville, aceitou o convite da professora de informática Fabiane Schmitt, há cinco anos, para participar de um curso de computação.

Até hoje, ela faz curso nas terças-feiras e é monitora em duas aulas que ocorrem nas quintas-feiras, no Colégio Imaculada Conceição. “A informática sempre nos proporciona novas aprendizagens. Eu gosto de escrever, pesquisar e conversar com os quatro filhos, quatro netos, sobrinhos e amigos. Como moro sozinha, a interação acaba sendo uma motivação muito boa para mim, faz com que eu me sinta melhor. Até a minha médica disse que a minha saúde melhorou com o envolvimento no curso, como estudante e monitora”, diz ela.

Ketty tem perfil no Facebook, WhatsApp, Instagram e Twitter. “Gosto de interagir mais no Facebook e WhatsApp. Até reencontrei amigos e conhecidos nas redes sociais, do tempo que morei na Bahia e Espírito Santo”, diz ela, destacando que indica um curso de informática para todos os idosos, como um ótimo entretenimento.

  

  Conheceu o mundo virtualmente

Romaldo Aloísio Steffler, 62 anos, morador do bairro São João, saciou a vontade de aprender a mexer no computador durante um curso de informática no último ano. Desde então, a tecnologia não foi mais deixada de lado.

“Uso a internet para pesquisas, assistir vídeos, utilizar conteúdos. Gosto de pesquisar curiosidades sobre outros países, na verdade conheci o mundo virtualmente. Através das redes sociais, comunico-me com os familiares e conhecidos. Descobri que tenho uma família com uma “parentagem” bastante numerosa, ela é maior que a dívida do Brasil”, diz ele, bem humorado.

Ele consegue se distrair por cerca de duas horas na frente do computador, mas quando está jogando  online esse tempo pode aumentar. “Eu me tornei uma pessoa mais paciente e menos estressada depois que aprendi um pouco de informática. Até a minha esposa (Maria Marcela Rockenback) me vendo mexer no computador, já ficou interessada em aprender. Mostro o que rola nas redes sociais, mas ela também vai fazer o curso, quando estiver menos atarefada”, conta Romaldo.

Grande procura nos cursos

As 20 vagas para o Projeto Informática para Adultos Maduros oferecidas pela Prefeitura de Dois Irmãos e o Colégio Imaculados Conceição, já estão esgotadas. O projeto destinado para pessoas com mais de 60 anos, iniciou na tarde dessa quinta-feira. Uma das alunas, Regina Schmitz, 68 anos, veio motivada para mergulhar no mundo virtual.

“Não sei nem ligar o computador. Quero fazer o curso e me comunicar com minhas duas filhas e um neto pelas redes sociais. Já tive vontade de participar do projeto no último ano, mas fui adiando”, conta ela, curiosa em aprender a mexer na máquina.

No Curso de Informática para a Terceira Idade oferecido pelo Colégio Imaculada Conceição ainda tem algumas vagas remanescentes nas terças e quintas-feiras. O curso aborda noções básicas de informática, internet, edição de vídeo, Pacote Office e redes sociais. Os requisitos para participar é ter 50 anos e vontade de aprender. Mais informações e investimento podem ser solicitados no próprio colégio ou pelos telefones (51) 3564-1213.

Aprendizagem constante e aumento da inclusão social

A professora Fabiane Schmitt, 44 anos, conhecida como “Profe Fabi”, licenciada em Computação e especialista em Mídias na Educação e Gerontologia Social, enfatiza a importância das tecnologias na vida dos idosos. “Deve se destacar a aprendizagem de uma forma diferente com a terceira idade, pois na informática trabalho muito em cima do erro, a expressão errando que se aprende. Na geração deles não era permitido o erro, pois era sinônimo de castigo. Além de manter a pessoa ativa, ajuda a mente, pois com o passar dos anos várias doenças poderão ser evitadas ou retardadas”, explica ela.

A tecnologia é uma ferramenta fantástica para a comunicação, segundo a especialista. “As redes sociais oferecem interação para as pessoas. É gratificante ver a alegria estampada no rosto de cada um deles, quando localizam familiares e amigos distantes, ou seja, tem a oportunidade de conversar com as pessoas em locais fisicamente distantes”, conta ela.

Ainda segundo a Profe. Fabi, a internet se torna uma ferramenta inesgotável de pesquisa de aprendizagem constantes, descobertas de receitas, localizações de países e novos lugares. “A diversão também está garantida, através de jogos, conversas, bate papos e interação”, garante ela.

Questionada qual o maior desafio para a terceira idade aprender, a professora revela que eles precisam sair da zona de conforto, ter atitude em mudar e ir buscar o conhecimento. “Além dos novos conhecimentos, o manuseio do computador ajuda na melhora da coordenação motora e na motricidade fina. As redes sociais são uma alternativa de fugir do isolamento e o curso de informática proporciona convívio com outras pessoas”, conclui ela.