Em
8 de julho de 1998, o Jornal Dois Irmãos divulgava uma matéria sobre um garoto
de 16 anos, vítima de paralisia cerebral. O trauma no parto atingiu sua parte
motora, os sentidos e o intelecto. Na reportagem, ele, ao lado da mãe, contou
sobre suas dificuldades, mas sempre fazia questão de destacar a vontade em
progredir, em superar os desafios que lhe foram lançados desde pequeno.
Hoje, quase 16 anos depois, essa história já traz
novas vitórias e uma série de superações. Rafael Alles hoje tem 31 anos. Os
progressos, tanto na parte motora quanto nos sentidos, são impressionantes.
Admirado por quem o conhece desde pequeno e também aqueles que o conhecem ha
pouco tempo.
Nesta semana,
anos depois da primeira conversa com o JDI, ele e a mãe Hilária Alles lembram
emocionados de tudo o que já viveram. “Ele começou a caminhar aos 8 anos de
idade, depois de quatro cirurgias. Tinha muita dificuldade na fala, nos
movimentos. Fez fisioterapia durante muitos anos, frequentou a APAE de diversas
cidades, inclusive Dois Irmãos. Uma das coisas que mais me chocou, mas que
também foi uma das que mais me deu força para continuar lutando pelo progresso
dele, foi quando uma moça me disse, na cara dura, que eu não podia ter pena dele”,
conta Hilária. O pai de Rafael, José Remi, é falecido há quase oito anos.
“Desde então, cumpri os papéis de pai e mãe. Superamos tudo juntos. Eu faria
tudo de novo, é uma lição de vida”, completa Hilária, com um belo sorriso no
rosto.
Campeão nos ringues da vida, e quem sabe um futuro campeão do Muay Thai
As aulas de muay thai refletiram também
em melhoras no trabalho de Rafael, que é elogiado pela gerente Adriana Acker.
“Ele tem melhorado na disciplina, assim como em todos os outros aspectos. Nunca
tivemos problemas com ele, bem pelo contrário, o Rafa é muito querido por
todos aqui. É muito educado, respeita de maneira incisiva”, elogia Adriana,
destacando que sempre há uma pessoa para dar suporte ao colega. “Ele trabalha
no abastecimento de prateleiras e está sempre disposto a ajudar. É muito forte,
inclusive. Além de tudo, ele acaba se socializando cada vez mais. Os meninos
daqui gostam muito de conversar com ele sobre futebol”, diz ela.
A
conversa entre o JDI e a mãe de Rafael aconteceu na Academia Xtreme, em Morro
Reuter, onde Rafael treina Muay Thai. Isso mesmo. Ele sonha em ser um campeão
dos ringues. Após o início nas aulas, uma melhora significativa foi percebida
nele. Rafael iniciou os treinos em janeiro deste ano, e já recebe elogios do
treinador e dos colegas. “Tenho muito orgulho de ver como o Rafa progrediu.
Quanto mais difícil o desafio, mais gratificante. As limitações dele não
impedem que ele faça atividades. O primeiro cruzado que ele deu foi
emocionante. A cada conquista dele, a gente vibra junto. É um exemplo de
superação. Além de tudo, ele tem uma força impressionante”, destaca o
treinador Rossano Weber. “Depois de começar as aulas, ele teve melhora em
tudo”, diz a mãe. “Ele não conseguia deixar o braço reto, hoje já consegue.
Também tinha problemas na movimentação do punho, hoje já não tem mais. A
melhora dele é impressionante, e um motivo de orgulho para todos nós aqui da
academia”, completa Rossano.
Rafael também
agradece ao treinador e aos colegas pela paciência e dedicação. “Nestes 7
meses vejo que sou outra pessoa. Eu não conseguia fazer quase nada. Hoje já
faço o jeb direto, cruzado, apoio. Tenho um pouco de dificuldade no
polichinelo, mas vou melhorar aos poucos. Meu pulso era torto, quase não
conseguia mexer. Hoje, graças a Deus e ao meu treinador, já melhorei muito.
Tudo isso ajudou também no meu trabalho”, diz Rafael, que trabalha no Mercado
Piá, em Morro Reuter, há quase 3 anos. Com um sorriso meio tímido, ele fala do
seu sonho. “Um dia ainda vou entrar no ringue e lutar como os meus colegas,
como o meu amigo Aliseu”, diz ele, emocionando a todos que estavam ali perto.
“Ele nos acompanha em todos os eventos”, diz Rossano. “No primeiro, quando o
Pinga entrou no ring, gritei tanto que quando ele saiu eu estava sem voz. Em
todas as lutas, quando um da nossa equipe entra no ringue, eu fico muito
nervoso”, conta Rafael, aos risos.
No trabalho...
Ah... disseram
também que o Rafael não deixa mais cair garrafas de refrigerante pelo mercado.
Quando questionado, ele dá risada.
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