Blog do Jornal Dois Irmãos


28 de out. de 2014

Travessão clama por mais segurança pública


O medo virou sentimento presente no dia a dia do bairro Travessão. Dezenas de moradores lotaram a sessão da Câmara de Vereadores, nesta segunda-feira, para pedir socorro às autoridades. Relatos desesperados dão a dimensão da insegurança que ronda o Travessão.
Nas últimas semanas, pelo menos seis assaltos à mão armada foram registrados no bairro. Cansados de promessas, os moradores cobram ações concretas e imediatas. Marcos Lauxen, presidente da Associação de Moradores, disse que o problema é grave e não é de hoje.
- Já fizeram audiência pública lá no bairro. Prometeram, mas não resolveram nada. Sabemos que o Travessão é cercado por bairros perigosos de Novo Hamburgo e Estância Velha. É uma rota de fuga fácil. Seria muito bom se tivéssemos pelo menos uma viatura circulando 24 horas pelo bairro. Quando acontece um assalto no Centro, eles sempre fogem em direção a Novo Hamburgo, e uma viatura aqui também ajudaria neste sentido – afirmou.
A revolta e a sensação de impotência eram visíveis. Recentemente, tem ocorrido um assalto por semana – o último foi no domingo, dia 26. Na sexta-feira, alguns moradores colocaram uma faixa na entrada do bairro para chamar a atenção de todos para o problema.
- É preciso se colocar no lugar dessas pessoas. Nas últimas três semanas foram três assaltos à mão armada com famílias reféns. Imagina o desespero de ter uma arma engatilhada contra a própria cabeça. É terrível – acrescentou o presidente da Associação de Moradores.
Vítima de assalto na noite de 23 de setembro, Adiles Wagner fez um desabafo assustador. Ele, a esposa, sua filha de apenas quatro meses e mais uma mulher que visitava a família foram feitos reféns por dois bandidos armados. Eles fizeram uma verdadeira “limpa” na casa, carregando todos os objetos roubados num dos carros das vítimas. A ousadia foi tamanha, que um dos indivíduos ainda bebeu vinho na casa durante o assalto.
- Botaram a arma na cabeça da minha filha de apenas quatro meses e levaram 10 anos da minha vida em 15 minutos. O sentimento que eu tenho é de impotência, pois não vai acontecer nada com quem fez isso. Até parece que os assaltos no bairro têm horário marcado para ocorrer, pelas oito, nove horas da noite, pois eles sabem que não tem policiamento por lá – lamentou Adiles.

AUDIÊNCIA PÚBLICA

Uma audiência pública foi marcada para 5 de novembro, às 19h, na Câmara de Vereadores. Serão convidadas autoridades municipais, do Estado e da polícia.

Câmeras e núcleo policial

De acordo com a prefeita Tânia da Silva, uma nova reunião entre a administração municipal e a Secretaria de Segurança Pública do Estado deve ser agendada para discutir o assunto, em especial, sobre o bairro Travessão. "Vamos, mais uma vez, tentar conversar sobre a possibilidade de instalar um núcleo policial no bairro. Novo Hamburgo, por exemplo, conseguiu novos núcleos policiais", diz Tânia. Sobre a instalação das câmeras de vigilância, anunciadas este ano depois de uma série de crimes cometidos em Dois Irmãos, ela destaca, que assim que o projeto estiver pronto para ser executado, o valor de R$ 200 mil será liberado.
Marco Antônio Alles, presidente do Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro) de Dois Irmãos, informa que um projeto já está sendo feito. "Quando começamos a discutir sobre a instalação das câmeras de vigilância, cerca de 10 empresas nos apresentaram propostas, porém, nenhuma se enquadrava. Então, fizemos contrato com um engenheiro, que irá fazer o projeto. Depois, este projeto será apresentado às empresas interessadas. A partir daí, elas terão um prazo para apresentar os seus orçamentos", diz ele, destacando que será dada prioridade para o bairro Travessão. "As primeiras instalações serão no Travessão, isso já foi dito desde o início. Serão instaladas em pelo menos três ruas: Jacob Boll, Pedro Enzweiler e Albano Hansen. Além disso, serão pelo menos três câmeras em cada um destes pontos", acrescenta ele.

Oposição cobra atitude da prefeita e  situação critica ausência do Estado

Os moradores do Travessão não arredaram pé da sessão de ontem. 
Depois de expor sua angústia, eles ouviram o que os vereadores tinham a dizer sobre o assunto. Vez ou outra, a discussão descambou para o debate político, com trocas de acusações. 
Para Jair Quilin (PDT), falta mobilização da administração municipal. Ele lembrou a promessa do repasse de R$ 200 mil para câmeras de monitoramento, feita pela prefeita Tânia da Silva na audiência pública de 21 de julho, na Câmara de Vereadores.
- A prefeita não fez mais nada depois daquela reunião. E não adianta só ficar fazendo audiência pública; a gente tem que chegar apertando o pescoço e cobrar – comentou o pedetista.
Sérgio Fink (PTB) criticou o Governo do Estado por não cumprir com suas obrigações na área de segurança pública e cobrou maior respeito com a administração municipal.
- Já foram mandados diversos ofícios, mas o secretário estadual nunca pode atender. É um desrespeito com o município. Sobre as câmeras, sei que já está sendo feito um estudo técnico para sua instalação. Mas só isso não adianta. O que falta realmente são mais policiais, e essa responsabilidade é do Governo do Estado. Temos que ser justos e não politizar, ou daqui a pouco vão querer que a prefeita saia de arma na mão para nos defender. A questão é que os direitos humanos hoje defendem mais os bandidos. Sou a favor da pena de morte para crimes hediondos. Para mim, bandido bom é bandido morto – disparou Sérgio, sendo aplaudido.
Na opinião de Márcio Goldschmidt (PT), o município também deve assumir sua responsabilidade e pensar em ações compartilhadas, como a criação de uma polícia comunitária. 
- Diante de uma situação dessas, temos duas coisas a fazer: dizer que o problema é dos outros – governo estadual, governo federal, Brigada Militar, Polícia Civil... – ou arregaçar as mangas e ajudar a resolver o problema. Penso que as câmeras são importantes, sim, pois inibem a ação dos bandidos. E se o Estado não faz sua parte, então façamos nós – afirmou o petista.


Presidente confirma devolução de R$ 200 mil das economias da Câmara

O presidente da Câmara, Jailton Proença de Lima (PDT), destacou que até agora a prefeita não encaminhou o projeto de suplementação dos R$ 200 mil que prometeu para as câmeras.
- Eu também me comprometi a devolver 200 mil das economias da Câmara para investir na segurança pública. Ainda não fiz a devolução porque estava esperando ela mandar o projeto de suplementação dos 200 mil da prefeitura e porque ela disse que não pretendia utilizar os recursos da Câmara na segurança. O município não pode se furtar de tomar providências. Vou cumprir com a minha palavra e devolver, mas quem tem a caneta na mão para tomar uma atitude é a prefeita – afirmou ele, também sendo aplaudido.

Moradores recriminam politicagem na sessão

O clima esquentou durante a manifestação do vereador Paulinho Quadri (PMDB). 
Ele não gostou do discurso da oposição e reagiu, sendo interrompido pela plateia.
- O Jair falou da prefeita Tânia, mas eles estiveram quatro anos no governo e não resolveram nada. O Miguel (Schwengber, ex-prefeito) era do Travessão e não fez nada pelo bairro – alfinetou.
Alguns moradores não gostaram e chiaram.
- Não é essa a questão – afirmou um deles, antes de completar: - Esquece a politicagem.
- Querem viver do passado? – questionou outro, indignado com o rumo da discussão.
- Será que vão esperar morrer alguém? – protestou mais um, aumentando o alarido.
Foi pedido silêncio para Paulinho continuar.
- Eu respeito vocês e também quero que me respeitem. Quero dizer que, fora as câmeras, nosso sonho é voltar a ter um posto no Travessão com um ou dois policiais. Agora temos que esperar ser recebidos pelo Estado – concluiu o vereador do PMDB.
Um morador, então, pediu a palavra:
- Esse empurra-empurra não adianta. Se não estão conseguindo conversar com o Estado, por que não fazer uma Guarda Municipal? – questionou.
O pedetista Jair Quilin voltou à tribuna para defender a ideia da Guarda Municipal.
- Já fiz essa solicitação aos últimos três prefeitos e está na hora de acontecer. É algo que está ao alcance do município. Cidades como Novo Hamburgo, Estância Velha e Campo Bom já têm. Por que Dois Irmãos não pode ter? – questionou o vereador.
Sérgio Fink reiterou sua cobrança ao Governo do Estado e falou sobre a Guarda Municipal:
- Se não fosse o município pagar a gasolina e a manutenção das viaturas, os policiais não teriam veículos para rodar. Sobre a Guarda Municipal, acho uma ideia saudável, mas é preciso ter um projeto muito bem estudado – comentou o vereador do PTB.

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