Blog do Jornal Dois Irmãos


6 de ago. de 2013

Dor, tristeza e revolta


Pai atropela as filhas gêmeas e a ex-sogra no São João.
Uma das meninas morreu na hora e ele fugiu do local


Tragédia aconteceu na Rua Rio de Janeiro, no bairro São João

O cenário era de tragédia no final da tarde de ontem, por volta das 16h50, na rua Rio de Janeiro, uma estrada de chão batido do bairro São João.
Duas meninas gêmeas, Lorrany Bach e Raiany Back, de 2 anos e 4 meses, e a avó, Romilda Tischer Vieira, de 64 anos, foram atropeladas por Orides Back, 30 anos, que dirigia o Gol azul placas IAZ-9675, de Dois Irmãos. Após atropelar a avó e as meninas, ele colidiu contra uma bananeira e fugiu do local sem prestar socorro.
O fato, que já era revoltante, mais tarde deu espaço a um sentimento ainda pior, uma mistura de indignação, desespero, surpresa: Orides é pai das meninas e ex-genro de Romilda. Uma delas, Raiany, morreu na hora, com grave ferimento na cabeça. A irmã e a avó foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e pela equipe do SAMU. A avó foi levada ao Posto 24h, e em seguida encaminhada ao Hospital de Pronto Atendimento de Canoas, onde passou por uma bateria de exames. Não teve fraturas, apenas escoriações. Retornou ao posto e foi liberada na manhã de hoje. Já Lorrany segue em observação no Hospital São José de Dois Irmãos. Ela também não teve fraturas, apenas escoriações.
Segundo informações da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos, Orides teria pego o carro minutos antes do fato em uma revenda de automóveis da Av. João Klauck para fazer um teste. O corpo da menina foi removido às 18h50, pela Funerária Schaumloeffel, após o trabalho do Instituto Geral de Perícias. A mãe das meninas, Rita Vieira, de 39 anos, por pouco, não chegou ao local da tragédia.
“Todos os dias ela passava na creche depois do trabalho para pegar a mochila das meninas, para que a mãe não precisasse levar. Ontem, quando ela chegou na creche, uma pessoa logo contou o tinha acontecido”, conta uma familiar. Ao receber a triste notícia, Rita passou mal e precisou ser socorrida ao Posto 24h.


A tristeza e a revolta
Desespero de amigos e familiares ao ver o corpo da pequena
O fato ocorreu próximo a um horário de intenso movimento perto do local, e em poucos minutos, moradores do bairro, conhecidos e familiares das vítimas chegavam à rua Rio de Janeiro. O sentimento era de revolta. Todos se questionavam sobre quem poderia ter atropelado as meninas e avó e ter fugido sem prestar socorro. “Isso é um monstro, não uma pessoa”, diziam os moradores. Até então, ninguém sabia quem era o motorista do Gol. A única pista era de que ele teria fugido para o matagal. A Brigada Militar fez buscas pelo mato, mas ninguém foi localizado.
A informação de que era o pai que poderia estar dirigindo o veículo veio a tona quase mais de uma hora depois do fato, quando um homem chegou no local informando que tinha visto Orides dirigindo o veículo por volta das 16h50, próximo a Ponte de Pedra, na entrada do bairro São João. Disse ainda que ele tinha deixado apagar o veículo e que tinha lhe cumprimentado. A partir daí, iniciou a busca pelo, até então suspeito, Orides Back.


Avó voltava da creche com as duas netas
O atropelamento ocorreu quando a avó voltava com as netas da creche Beira Rio, onde as meninas passam o dia desde janeiro de 2012. Buscar as netas fazia parte da rotina de Romilda, que levava as meninas para casa, na rua Tocantins. Por motivos de segurança, elas caminhavam pela Rua Rio de Janeiro, por ser menos movimentada.


Pais estavam separados
Velório da pequena Raiany ocorreu nesta terça-feira
Rita Vieira e Orides Back tiveram um relacionamento de quase dois anos. Há cerca de três meses, eles teriam se separado. Depois de um mês, Rita teria dado uma nova chance a Orides. Retomaram, mas a cerca de um mês estavam novamente separados.
De acordo com Nilvo Vieira, um dos irmãos de Rita, Orides sempre foi uma pessoa fechada. “Passava dias sem falar com a família. Chegava a passar 15 dias sem nem mesmo falar com a minha irmã. Sempre foi uma pessoa difícil de lidar”, conta ele, ressaltando ainda que, Orides “deu um recado” dias atrás. “Ele disse para um primo meu que mataria as meninas e depois se mataria, mas nunca achamos que ele seria capaz de realmente cometer essa brutalidade. Tenho vontade de falar muitas coisas para ele, mas a principal de todas, é falar o quanto ele é covarde”, diz o irmão, revoltado.
Ainda de acordo com o irmão, Orides seguia visitando as filhas, mas não podia entrar na casa. “Ele ficava na porta, abraçando as meninas”, lembra ele. Desde a separação, Orides estava morando no bairro Portal da Serra. Rita trabalha na Calçados Pegada. É natural de Herval Seco e está em Dois Irmãos desde 1988. Tem também um filho de 18 anos, do primeiro relacionamento.

Orides não teria ido trabalhar
Orides trabalha como pedreiro. Até pouco tempo atrás trabalhava em uma equipe e agora atuava junto a mais um colega. De acordo com um dos cunhados, Orides não teria ido trabalhar nesta segunda-feira. “Ele ligou para o companheiro de serviço e disse que não iria trabalhar porque estava com dor de barriga. Depois disso, ele não atendeu mais o telefone”, completa ele.

Raiany é lembrada com carinho por todos

Últimos trabalhinhos feito pela menina
Dia de comoção na creche Beira Rio
No local do acidente, a imagem do corpo de Raiany coberto por uma lona preta e com um par de sapatinhos deitados ao lado, emocionou a todos. Uma moça, visivelmente emocionada, falava da pequena. “Era uma menina calma, tranquila, querida, inteligente. Ainda na semana passada, ele (Orides) visitou as meninas na creche, e chorou muito, dizendo que estava arrependido. É inacreditável ele ter tido a coragem de fazer isso”, diz a moradora do bairro, que também trabalha na creche Beira Rio.
Na creche, a tristeza de todos era visível. “Era uma menina calma e sadia”, diz Líxia Stoffel, superintendente da Fundação Assistencial de Dois Irmãos (FADI), segurando nas mãos os últimos trabalhinhos feitos por Raiany na creche. “Eles estavam trabalhando a amizade. Ela era uma menina muito querida”, completa, emocionada. Raiany era aluna da Turma 3A, e é lembrada também com carinho pela professora Viviane dos Santos. “Convivia com ela há cerca de 4 meses. A Raiany e a Lorrany sempre foram muito unidas, brincavam juntas, eram a dupla da turma. Sempre participativas e inteligentes. Uma protegia a outra”, conta Viviane.


Pai foi preso na manhã de hoje

Orides Back
Foragido desde o final da tarde de ontem, Orides Back, de 30 anos, foi preso em flagrante pela Polícia Civil por volta das 10h30 desta terça-feira, na rua Picada 48, quase na divisa de Dois Irmãos com Ivoti. 
Segundo informações da Delegada Ariadne Langanke, da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos, Orides será indiciado por homicídio doloso e tentativa de homicídio. Ainda segunda a delegada, buscas e investigações estavam sendo realizadas pela Polícia Civil e Brigada Militar desde o final da tarde de ontem. “Hoje pela manhã, na primeira hora, encaminhamos o pedido de prisão preventiva ao Fórum de Dois Irmãos, e seguimos as buscas. Dividimos nossa equipe e seguimos com diligências por toda a cidade. A prisão dele era uma questão de honra, precisávamos dar uma resposta a sociedade”, diz a delegada.
O enterro de Raiany foi às 14h desta terça-feira, no Cemitério Municipal de Dois Irmãos.

Orides nega intenção de matar, mas para delegada crime foi premeditado
Após a prisão, Orides prestou depoimento na Delegacia de Polícia acompanhado de seu advogado. De acordo com a delegada Ariadne, ele nega que tenha premeditado o crime. “Foi um depoimento longo. Ele declarou que tinha intenção de comprar o veículo, por isso havia pego para fazer um teste. Disse que queria ver as filhas e por isso foi até o bairro São João. No depoimento, relata que entrou na rua Rio de Janeiro em alta velocidade e acabou perdendo o controle do veículo e atropelando as três e que parou a uns 500 metros do local e, assustado, resolveu fugir para o mato”, relata.
Durante o depoimento, Orides teria dito também que há cerca de 1 mês a ex-companheira estava dificultando o seu contato com as filhas. “Este seria um dos motivos do desentendimento”, conta a delegada. A versão de Orides é contestada pela delegada Ariadne. “A convicção que tenho é de que foi intencional. Achei ele uma pessoa extremamente fria. E durante o depoimento ele deixou claro que não tinha a intenção de se entregar”, completa ela. Orides tinha duas passagens pela polícia, ambas de ameaça, em 2011. Ele foi encaminhado ainda na tarde de hoje ao Presídio Central de Porto Alegre.

Também na manhã de hoje, foram colhidos os depoimentos da mãe e da avó das meninas. A mãe, em seu depoimento na Polícia Civil, destacou que recebeu 80 ligações de Orides após a tragédia, mas não atendeu a nenhuma ligação.

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